As Boas Maneiras (2017)

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Nessa terceira parceria da dupla Juliana Rojas e Marcos Dutra, temos um filme que apesar de flertar diretamente com o gênero terror, também carrega consigo outros gêneros sem deixar que o resultado final seja um “genérico”, no sentido mais pejorativo da palavra.

Com uma trama muito bem escrita, “As Boas Maneiras” vêm desde o ano passado recebendo inúmeros elogios pelos festivais onde é exibido, mostrando não só a força do cinema brasileiro, como também indicando que existem muitos outros caminhos a se explorar no nosso cinema, marcado há muito tempo pela dicotomia cinema comercial x cinema alternativo, onde o primeiro refere-se aos filmes com o selo e atores globais, em que o entretenimento raso e o sucesso comercial são características, e o segundo, que apesar de trabalhar roteiros mais densos, é mal distribuído e muitas vezes sequer chega ao conhecimento do grande público.

Contrariando essa lógica, “As Boas Maneiras” é uma espécie de frescor, pois mesmo trazendo o selo Globo Filmes e tendo como uma de suas atrizes principais uma global, o filme foge à regra das produções comerciais com um roteiro estranho, quase bizarro, mas que ao mesmo tempo consegue expressar também poesia, fantasia e até mesmo crítica social.

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Em dois atos, o filme conta a história da relação de Ana (Marjorie Estiano) e Clara (Isabél Zuaa, excelente atriz portuguesa, filha de africanos), respectivamente patroa e empregada. Vivendo uma gravidez como mãe solteira, rompida com a família de fazendeiros e aparentemente quebrada financeiramente, Ana contrata Clara para ser babá da criança que está por vir, e como é de praxe nas relações de trabalho entre classes, Clara acaba por desempenhar também outras funções, como faxineira, conselheira e até como pintora de parede do quarto do bebê que está por vir.

A convivência diária faz com que Clara passe a perceber algo de estanho no comportamento de Ana justamente nas noites de lua cheia, o que de certa forma, acaba por estreitar a relação entre elas. Com personalidades bem opostas, mas com alguns traços em comum, Ana é o estereótipo de garota rica do interior. Vivendo uma vida de consumo e futilidades, não parece se preocupar com quase nada, exceto quando por muitas vezes se mostra temerosa, e até estranhamente  horrorizada com a gravidez.

Já Clara, parece ter um passado meio problemático. Sem família, vive numa casinha de fundos com a senhoria morando na frente,  e passa o tempo pressionada e tentando fugir das cobranças pelo aluguel que não consegue pagar. Mas apesar dos problemas financeiros, Clara é uma mulher muito sedutora, atraindo a atenção e desejo de outras mulheres sem precisar se esforçar muito para isso.

Ao mesmo tempo em que Clara vai conhecendo mais sobre o passado de Ana e da origem de sua gravidez, ela também passa a se mostrar mais atraída por ela. O trabalho que lhe “oferece” moradia, por outro lado também cobra uma dedicação quase que integral e logo Clara já não tem mais tempo sequer pra sua vida social. Então chega a hora do parto e do segundo ato do filme, que para não dar spoillers, não poderei oferecer muitas informações nesse texto.

Após o parto, o filme avança no tempo e passa a contar a história de Clara e de Joel, o filho do qual Ana estava grávida.

Vivendo na antiga e humilde casa de Clara, ela e Joel parecem levar uma vida normal, até que aos poucos a rotina deles vai mostrando que coisas muito estranhas continuam a acontecer e surpreender, como por exemplo, um pequeno cômodo escondido e correntes presas na parede.

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Repleto de referências a alguns clássicos do terror e da fantasia, o filme equilibra muito bem uma multiplicidade de gêneros e ainda assim consegue apresentar uma autenticidade ímpar em relação não só ao cinema nacional, mas também ao cinema internacional mais convencional.

Como já foi dito aqui, todos os elogios que tem recebido nos festivais ao redor do mundo, mostram que tão importante quanto fazer nosso cinema cruzar fronteiras, é fazê-lo com identidade própria, coisa que a dupla Juliana Rojas e Marcos Dutra sabe muito bem como fazer.

Veja o trailler:

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