A Cordilheira (2017)

“Se os Estados Unidos não podem controlar a América Latina, não podem esperar que exista uma ordem de sucesso em outras partes do mundo, ou seja, controlar o mundo completo”.

Noam Chomsky

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“A Cordilheira”, novo filme do diretor argentino Santiago Mitre, começa com uma cena que mostra um trabalhador tentando entrar na Casa Rosada para fazer uma entrega. Diante de muitos obstáculos que se confundem entre segurança e burocracia, ele finalmente consegue chegar até o local da entrega e então, um plano sequência conduz o espectador até o personagem de Ricardo Darin, que pela primeira vez ao longo de sua magistral carreira como ator, interpreta um presidente argentino.

Essa introdução, embora possa parecer num primeiro momento algo aleatório,  revela muito do que diz respeito à trama central do filme e principalmente, à trajetória de Hernan Blanco, personagem de Darin, cuja rápida ascensão política o levou ao cargo máximo do poder executivo argentino.

Mesmo não sendo a figura central da cúpula encabeçada pelo presidente brasileiro Oliveira Prete (Leonardo Franco), e composta por outros líderes da América Latina, Blanco tem papel importante justamente por ser uma espécie de incógnita, e que pode ser voto decisivo nos últimos ajustes que configurarão a Frente Petrolífera do Sul, nova e promissora aliança do petróleo com países latino americanos, aos moldes do que foi a OPEP.

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Porém, às vésperas de embarcar para as cordilheiras chilenas, local onde se realizará a importante cúpula, chega até os assessores de Hernan a informação de que seu ex genro ameaça divulgar à imprensa informações que comprometem em muito seu governo. É então que Marina (Dolores Fonzi), filha de Hernan, é levada para ficar com o pai no Chile, a fim de que esta fique afastada da imprensa e de possíveis complicações acerca da chantagem, embora a estratégia acabe por não surtir o efeito esperado, pois Marina acaba tendo um surto justamente nos momentos mais decisivos da cúpula.

Assim, acompanhamos os desdobramentos de duas tramas paralelas; o passado de Hernan, que espreita vir à tona após uma sessão de hipnose a que é submetida Marina após o surto; e a chegada em cena de um representante do governo estadunidense (Cristian Slater) que secretamente procura o presidente argentino a fim de propor um arranjo estratégico, na qual os Estados Unidos passariam a fazer parte da aliança petrolífera, mesmo com a maioria dos outros líderes discordando veemente dessa ideia.

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Apoiado firmemente num contexto histórico que ao longo de décadas teve os Estados Unidos influenciando direta e indiretamente os rumos políticos e econômicos de países latino americanos, o roteiro, (que prioriza mais aquilo que está nas entrelinhas, nos olhares, do que o que é propriamente dito), aproveita ao máximo a competência de atores como Daniel Gimenez Cacho, que faz o ardiloso presidente mexicano, Leonardo Franco, Erica Rivas, Alfredo Castro, e dada a proximidade com a realidade que vivemos hoje, onde a privatização é motor indutor das campanhas eleitorais, torna a trama ainda mais crível.

Claro que muito dessa credulidade funciona bem também por conta do onipresente ator argentino Ricardo Darin, que com mais uma atuação soberba, vai se firmando como um dos atores mais importantes do sul global, e cuja mera presença já é motivo mais que suficiente para assistirmos qualquer produção em que esteja envolvido, relegando à segundo plano até mesmo outros fatores importantes como direção, roteiro, etc.

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Para nossa sorte, este não é o caso de “A Cordilheira”, pois o filme funciona muito bem como um conjunto, onde trama, direção, fotografia e elenco mantém o bom nível do longa.

Infelizmente o filme peca na trilha sonora, exagerando consideravelmente a música em momentos de mais suspense, mas que não justificam tal intensidade, pois muitas vezes ela é usada como se estivéssemos prestes a presenciar a cena do chuveiro de Psicose. Se bem que por outro lado, a simples noção do Tio Sam corrompendo e agindo furtivamente sobre o futuro de nações latino americanas seja por si só motivo mais que suficiente para nos sentirmos aterrorizados, que os diga os anos de chumbo nas décadas de 60 e 70.

Trailler

 

 

 

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