Capitão Fantástico

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A ausência de posts no blog tem como principal justifica a falta de tempo pra escrever, mas também devo admitir que poucos filmes dos que tenho visto merecem algum texto ou indicações.

O grande alívio vem na forma de Capitão Fantástico, seríssimo candidato  a melhor filme do ano (ainda preciso ver mais dois ou três que não vi, antes de confirmar ).

Escrito e dirigido pelo norte americano Matt Ross, o filme conta a história de Bem (Viggo Mortensen) e de sua peculiar família, que adeptos a uma forma de vida alternativa, acabam tendo que explorar e conviver com um mundo exterior completamente distinto daquele a que se habituaram.

Vivendo por anos numa floresta, os seis filhos, com idades entre 4 e 17 anos, praticamente nunca tiveram contato com o mundo tal qual conhecemos, a não ser pelos livros (muitos dos quais clássicos), que são não apenas lidos, mas debatidos e analisados de forma crítica (algo como o avesso daquilo proposto pelo Movimento Escola Sem Partido). Além desse incentivo ao senso crítico, o pai ainda os treina fisicamente como se estes estivessem em algum reality de sobrevivência na mata.02-19

Porém, a morte da mãe (que estava internada com depressão), acaba fazendo com que eles deixem seu pequeno paraíso rumo ao mundo que há séculos, insistimos em chamar de “civilizado”.

Além de toda crítica direta ao capitalismo e ao modo de vida neoliberal, o filme também estende reflexões sobre outros temas mais específicos, como educação, religião, depressão, consumismo,infância/adolescência e autonomia. E ainda, de quebra, um pequeno tributo a Noam Chomsky!!!

E nem é preciso um olhar muito atento para notar que muito do que vemos no filme, tem de alguma forma, relação com o atual contexto mundial. Trump, Temer, Síria, EI.  Ora, não foram os caminhos escolhidos pelas políticas econômicas ditadas pelo capital que nos trouxeram problemas como obesidade, consumismo, alienação, escassez de recursos naturais, entre tantos outros? Seria este o  fim da história teorizado por Fukuyama?

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Não tenho dúvidas de que o filme vai sofrer ataques acusando-o de ideológico. Ainda que ao longo do ano, milhares de filme carreguem a bandeira da meritocracia, do consumismo, do patriotismo estadunidense, e ainda assim passam imunes a qualquer crítica nesse sentido, Capitão Fantástico não sairá ileso. Porém, sob um olhar mais apurado, mais crítico (algo um tanto raro na direita reacionária), o filme também possibilita notar algumas críticas à esquerda, o que o torna ainda mais especial.

Além do roteiro primoroso e das excelentes atuações, o filme conta com uma trilha sonora maravilhosa, que ainda reserva um momento surpreendente numa das cenas finais (uma das melhores cenas do filme), além dos muitos diálogos inteligentes que o tempo questionam a sociedade, mesmo quando o protagonista é um dos filhos de Bem, cuja idade não é mais que cinco anos.

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Pra quem procura algo fora do lugar comum (distante dos repetitivos e onipresentes filmes de heróis e outros blockbusters), Capitão Fantástico se apresenta como uma ótima pedida, que ao mesmo tempo em que entretém, também nos faz pensar e questionar não só a sociedade em que vivemos, mas também (e principalmente), nosso papel diante da necessidade de questionar e desconstruir velhos dogmas visando um mundo que seja no mínimo, mais igualitário.

Cotação

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