Piquenique na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock 1975)


Certos filmes possuem um incrível dom de hipnotizar o espectador de tal forma, que chega até assustar. Agora imaginem um filme com esse poder, e com uma incrível e verdadeira história pra lá de bizarra.

O filme em questão é Piquenique na Montanha Misteriosa, produção australiana de 1974, dirigida por Peter Weir, que mais tarde, trabalhando nos Estados Unidos, dirigiu filmes como A Testemunha, Show de Truman, entre outros.

A ação se passa em 1900, onde um grupo de alunas de um internato australiano, seguem rumo a um passeio à Hanking Rock, uma formação rochosa criada em decorrência de antigas erupções vulcânicas.

O local possuí uma beleza exótica, nada exuberante, onde a forte luz solar é permanentemente evidenciada através dos rostos rosados das alunas, o que causa até mesmo certo desconforto ao longo da trama. Os enormes corredores entre as rochas são como cânions, e logo nos remetem a um labirinto natural rochoso.

O acampamento é montado próximo ao pé das montanhas e logo começam a surgir os primeiros fatos estranhos, como a paralisação dos relógios exatamente ao meio-dia. Na seqência, um grupo de quatro garotas, solicita junto a pofessora responsável pelo grupo, permissão de subirem às montanhas, com a promessa de retornarem antes do horário do chá.Porém, apenas uma delas volta, gritando e em estado de choque. A partir daí, só ficamos sabemos que a professora responsável, também desaparecera, sem deixar vestígios.

Como disse no início do texto, o filme tem um poder sonoro e visual muito grande de envolver, horas com a voz doce e delicada das alunas,outras com a música , completamente fundamental para algumas cenas, como quando elas aos poucos, vão subindo a montanha, como que encantadas pela visão das rochas que sugerem formas de grandes faces.

Apesar do título um tanto enfadonho, o filme possuí outras histórias paralelas que permeiam a narrativa, e que de certa forma, possuem vínculo com o desaparecimento das garotas. Isso, faz com que ele seja ainda mais inteligente, pois contar uma história que de fato tenha acontecido, mesmo que imbuída de algum mistério sem solução, precisa de algo mais para não soar tão documental, e alçá-lo a um patamar acima.

Ao final, você estará se perguntando o que de fato aconteceu naquele local, e mesmo com a permanência do mistério inconclusivo, ainda assim, o espectador mais atento refletirá sobre algumas dicas propostas pelo excelente roteiro e poderá acionar o fantástico que habita a imaginação de cada um, para teorizar sobre as questões que continuam sem resposta, mesmo tendo se passado mais de um século.

Cisne Negro (2010)


O que faz de um filme bem realizado, bem dirigido e com ótimas interpretações se tornar um filme comum, digno de cair no esquecimento dias depois de tê-lo visto?

Na minha opinião, e no caso deste filme, o problema está justamente na história que é contada.A sensação de “já vi este filme antes” é muito clara logo nos seus primeiros minutos. Embora isso nem sempre seja um demérito, afinal de contas, boas histórias podem sim se reciclar, nesse caso não funciona.

O filme conta a história da obstinada Nina, recém promovida ao posto de primeira bailarina da companhia e que almeja conseguir o principal papel para uma releitura de O Lago dos Cisnes.Mas entre ela e o papel, estão, um diretor obsessivo, uma bailarina tão ou mais competente que ela, e principalmente, sua própria sanidade.

O que torna o desafio tão difícil, é o fato da bailarina principal ter de interpretar dois papéis bem distintos, o Cisne Branco (onde ela consegue transpor sua própria personalidade, pura e inocente) e o Cisne Negro, que corresponde justamente o contrário do que ela é.

Conforme segue sua jornada de treinos, cobranças e paralelamente a super proteção da mãe (uma ex bailarina), Nina aos poucos vai se transmutando, vivendo experiências jamais vividas antes, e dessa forma, trazendo a tona o seu lado “Cisne Negro”.

Esse processo porém, é mostrado de uma forma muito manjada.As incertezas da protagonista não transcendem junto ao público. Assim como alguns acontecimentos no decorrer da trama, que deveriam pôr em dúvida o espectador, da mesma forma como põe Nina, mas não o faz.Nem mesmo a atuação perfeita de Natalie Portman, conseguem causar alguma emoção.

Mesmo não sendo qualificado para avaliar os méritos técnicos do filme, penso que talvez sejam essas as principais qualidades de Cisne Negro. Porque uma história boa mal executada, vale tanto quanto uma história ruim, bem executada.O que se resulta no final, é tão somente a qualidade técnica…

Reino Animal (Animal Kingdon 2010)

Vira e mexe o cinema australiano traz alguma boa surpresa. Dessa vez, é Reino Animal, um filme que transpira tensão praticamente do começo ao fim.

Logo no início, somos apresentados ao jovem Josh e sua mãe, sentados num sofá da sala, vendo um programa qualquer na TV. Até aí, tudo normal, senão fosse o fato de sua mãe estar recém falecida, vítima de uma overdose de heroína.
A normalidade com que Josh lida com a situação, quando ao ligar para a polícia, ainda observa interessado o que se passa na TV é algo chocante, embora no decorrer do filme iremos entender melhor esse comportamento.

Como ainda é menor de idade, Josh vai morar com a avó materna e os tios, com quem manteve mínimo contato durante toda a sua vida, mas que mesmo assim, é muito bem recebido. O problema é que os quatro tios formam uma quadrilha de assaltantes, cujas ações acabaram por colocar a polícia em seu encalço.

O mais velho dos tios, é Pope, um homem tão perturbado quanto perturbador, que está sendo caçado por um grupo de policiais que são uma espécie de justiceiros, e por isso, tem vivido os dias escondido. Os outros são Barry, que se mostra o mais “normal”, Craig, que divide a vida entre os roubos e o tráfico de drogas e Darren, o mais novo. O papel da avó, está em proteger os filhos, assim como uma fêmea selvagem qualquer, defende suas crias. Custe o que custar.

Apesar da anormalidade do novo lar, logo Josh se estabelece e passa a viver uma vida normal, inclusive a namorar, mas aí então, um episódio irá provocar um turbilhão de acontecimentos, onde a tensão citada no início do texto, passa a ser ainda mais incisiva.
Creio que isto é o suficiente que você precisa saber sobre a história do filme. Agora vamos a outros pontos positivos. A atuação do elenco é acima da média. Desde o jovem Josh (James Frecheville), passando pelo tio Pope (Ben Mendelsohn) até a avó Janine (Jacki Weaver)), todos conseguem transmitir as emoções de forma tão intensa e bruta, que farão com que o espectador menos avisado não se sinta plenamente à vontade até o final do filme.

Por se tratar de uma história baseada em fatos reais, a veracidade das cenas e dos acontecimentos acaba trazendo um ar ainda mais sério, ainda mais aterrorizante. O filme inclusive, foi muito bem avaliado em festivais não só na Austrália, como também em diversos países do mundo.

Para finalizar, vale dizer que Reino Animal não é um filme fácil. Assim como seu título, que a primeira vista pode parecer inapropriado, o filme também carece de uma atenção e envolvimento do espectador, e se este tende a apreciar o raso cinema “roliudiano” com seu arsenal de bobagens e superficialidade, fatalmente não irá digeri-lo.

Deixa Ela Entrar (versão sueca) – Deixe-me Entrar (versão estaduniense)

Cineastas dos Estados Unidos expõem diversas razões para se realizar um remake. Rejeição em ver filmes falados em outra língua senão a inglesa; possibilidade de melhorar algo já feito introduzindo novas idéias; inserir um novo olhar sobre determinada obra, e principalmente, refilmar utilizando-se de mais recursos que a versão anterior, são suas principais argumentações a respeito.

versão sueca

Quando assisti a versão estaduniense de Deixa Ela Entrar, me ocorreu que mesmo sendo tão bom filme quanto a versão sueca, ainda assim, foi desnecessário. Salvo uma cena ou outra, filmada com mais recursos e com toques individuais do novo diretor, pode-se dizer que quem viu um, viu também o outro, de tão idêntico que ficou.

Dessa forma, nada mais justo do que escrever apenas uma vez, pra se saber o que encontrar em nos dois filmes, e assim, a dica vale para ambos, aumentando suas chances de encontrar um , ou outro.

O filme conta de forma densa e crua, a história de Oskar, um garoto de 12 anos de idade, solitário, vítima de builling na escola onde estuda, e que ainda tem que lidar com a separação dos pais justamente num momento tão delicado quanto á a adolescência.

Versão estaduniense

Seu mundo se restringe a fugir dos colegas, mascar suas gomas de chiclete no pátio coberto de neve do prédio onde mora,e observar os vizinhos através da janela do seu quarto. Numa dessas observações, ele vê a chegada dos novos moradores do apartamento vizinho, que são um senhor de meia idade e uma garota que aparenta ter mesma idade que ele, chamada Eli.

A partir daí, uma nova e assustadora realidade irá fazer parte desse contexto. A aproximação entre Oskar e Eli, irá trazer à tona não só segredos de ambos, mas também um forte laço de apoio e ajuda mútua entre eles, que culminará num dos finais mais surpreendentes já vistos no cinema.

Méritos, o filme tem muitos, mas a forma com que retrata a adolescência talvez seja o maior deles.A ausência dos pais, a dificuldade em se relacionar com outros menos solitários, a inocência, são todos motes muito bem trabalhados durante toda a narrativa.

Agora cabe a você, escolher entre a versão sueca ou a estaduniense. Garanto que nem um, nem outro, irão decepcionar se o que você busca é uma boa e arrepiante história de terror.

Watchmen

Filmes baseados em heróis de quadrinhos pertencem a uma categoria que costumo chamar de “dispensáveis”. Por mais que o intuito seja o mero entretenimento, é muito fácil notar que diretores e produtores envolvidos nesse tipo de filme, estão ali muito mais pra exibir suas habilidades com efeitos especiais e sonoros, e com os lucros de bilheteria, do que propriamente para contar uma história (que já havia sido contada antes de modo apropriado nos quadrinhos).

Salvo raríssimas exceções, um projeto de tentar levar às telas de cinema algo criado para ser história em quadrinhos, tem enormes chances de fracassar, senão comercialmente, ao menos na avaliação final no que se diz respeito ao roteiro e ao visual.

Sabendo disso, por muitos anos, idéias de trazer Watchmen para o cinema nunca evoluíram, afinal a obra de Alan Moore é considerada até hoje, como a melhor história em quadrinhos de todos os tempos. Isso sem contar no fato de que seu criador, sempre condenou qualquer possibilidade desse tipo, repetindo sempre aos quatro cantos do mundo, que Watchmen era impossível de ser filmado. Soma-se à isso uma enorme indefinição e longos processos envolvendo os direitos autorais da história.

Até que o diretor Zack Snider, que já havia levado às telas “300” (HQ de Frank Miller), resolveu tocar adiante, e assim, fez de Watchmen a melhor transposição dos quadrinhos às telas de cinema já vista até hoje. Opinião não só do autor desse texto, mas também de milhares de pessoas ao redor do mundo.

Claro que Watchmen é muito mais que uma narrativa sobre (super) heróis. A história consegue explanar sobre diversos temas, como política mundial, ficção científica, valores morais, corrupção e principalmente, humanidade. Mesmo sendo no período durante a Guerra Fria, ainda que numa realidade paralela, ainda assim, o texto e muitos personagens, conseguem ser reais e atuais.

O filme começa com o assassinato do Comediante, um dos membros do grupo de mascarados que por décadas combateu o crime e os inimigos do Tio Sam, mas que nos dias atuais, após a sanção de uma Lei que proibia a ação desses, vivem como pessoas comuns, com exceção de dois deles, que são Dr. Manhattan, (um físico que após um acidente nuclear adquiriu nova forma e mega-poderes), e Ozymandias, (um homem dotado de incrível inteligência ), que presta serviços governamentais junto às Nações Unidas.

O desenrolar não linear da trama vai mostrar o passado do grupo, enquanto no presente, o mascarado Rorschach, com a ajuda da nova Espectral e do novo Coruja, seguem as investigações sobre a morte do Comediante que pode trazer a tona uma grande conspiração contra os heróis.

Já a trilha sonora, é um capítulo a parte.Todas as músicas parecem ter sido escolhidas com tamanho cuidado para caberem milimetricamente em cada uma das cenas, como por exemplo durante o enterro do Comediante em que se ouve a belíssima The Sound Of Silence de Simon & Garfunkell.

Acho que é isso, Watchmen é um filme para ser assistido e apreciado mais que uma vez, afinal de contas, filmar o “infilmável é algo digno de muitos aplausos.

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